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27 de junho de 202220010
Pelo menos

Certo dia um colega estava se queixando do seu carro e eu logo disse “pelo menos você tem um carro”. Desde então ele só chama o próprio carro de “pelo menos” e, desde então, eu fico refletindo sobre isso.
Não é raro que as pessoas utilizem essa frase como forma de demonstrar gratidão e, junto a isso, conformismo com situações nem sempre confortáveis.
O relacionamento tá ruim? Pelo menos você tem um relacionamento. O trabalho não tá legal? Pelo menos você tem um trabalho. Descobriu uma doença? Pelo menos não é uma doença terminal. Se for, pelo menos você curtiu a vida.
Talvez isso seja aquela tal de positividade tóxica, mas eu acredito que é mais profundo, pois vejo, mesmo quem não é good vibes only, utilizando a frase “pelo menos” como forma de não parecer ingrata.
Com isso, vamos aceitando o relacionamento ruim, o trabalho mais ou menos, nos conformando, muitas vezes, em “pelo menos” sobreviver ao invés de viver.
Isso é tão perigoso quanto triste, pois vamos deixando de lado nossa capacidade de se indignar, de sonhar, de lutar pelo que desejamos, afinal “pelo menos” temos o mínimo. O mínimo de afeto, o mínimo de respeito, o mínimo de condições.
O “pelo menos” vem na tentativa de invalidar ou diminuir o que está sendo dito. Chego a pensar que, em alguns momentos, o pelo menos vem para desumanizar, de forma mais educada, uma situação.
Quando uma juíza diz para uma criança de 11 anos que “pelo menos” ela pode escolher o nome do bebê, ela está querendo agregar valor a uma situação absurda. Quando a juíza diz que “pelo menos” o PAI da criança, no caso o criminoso, precisa concordar em entregar a criança para a adoção, ela está normalizando o crime. Quando ela pergunta à menina grávida de 11 anos se ela suportaria “pelo menos” mais uma ou duas semanas de gravidez, ela não está enxergando a criança que está em perigo na história. Quando ela diz para a mãe dessa criança que “a dor dela, pelo menos vai trazer felicidade para um casal”, mais uma vez ela tenta demonstrar uma compensação desumana.
Talvez você tenha se acostumado em “olhar para o lado bom” e ver o “pelo menos” em tudo, mas lembre-se de “pelo menos” refletir sobre isso e “pelo menos” rever quantas oportunidades de melhorar suas condições, suas relações e sua vida você tem.

Cristina

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Por Cris H. Magalhães
Instagram: @crishmagalhaes
Podcaster: Papo Ins-Pirado
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Alexandre Bueno

Jornalista/Editor Geral


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