Ninguém sai ileso de ninguém!

Li essa frase há um tempo e desde então tenho pensado muito sobre ela.
Tenho pra mim que se ninguém sai ileso de ninguém, estamos a todo momento afetando pessoas e sendo afetados por elas.
Não falo de situações profundas, essas não restam dúvidas.
Estou falando de situações corriqueiras, como: a forma como cumprimentamos as pessoas que nos atendem, a maneira como escrevemos uma mensagem para marcar uma simples consulta, o modo como falamos com as pessoas que fizeram algo diferente do que idealizamos (alô expectativas!), o olhar disperso enquanto o outro busca conexão, a interrupção enquanto o outro ainda não concluiu, entre tantas outras situações.
Estamos tão envolvidos em nossos pensamentos, preocupações, tarefas, problemas, que deixamos de perceber o outro.
Estamos cada dia mais racionalizando as coisas e deixando de sentir. A pessoa diz que a mãe morreu e a gente pergunta quanto tempo ela vai se ausentar do trabalho. O outro chora porque se separou e a gente se preocupa como vai ser quando os dois tiverem que estar juntos no altar, afinal serão padrinhos do casamento no mês que vem. A pessoa diz que não está se sentindo bem e a gente pergunta se ela aguenta mais um pouquinho.
E vamos seguindo, como se não fôssemos afetados ou como se não afetássemos ninguém.
Talvez você não se lembre com clareza do rosto da pessoa que te atendeu de maneira rude naquele laboratório, mas se lembra da maneira como se sentiu. Talvez você não se lembre o nome da pessoa que te recebeu no seu primeiro dia, no seu primeiro emprego, mas lembra como ela te deixou confortável ou não. Talvez você não se lembre do rosto daquela pessoa que cedeu lugar pra você quando você estava grávida, mas lembra como se sentiu com isso. Talvez você não se lembre de todas as palavras ditas naquela discussão, mas se lembra da expressão corporal, facial, da entonação e, sem sombra de dúvidas, de como você se sentiu.
Não se engane, nem você, nem qualquer outra pessoa, é forte suficiente para viver a vida sem resquícios dos encontros. Sejam eles profundos ou rasos.
Não se engane, tanto você, quanto qualquer outra pessoa, é afetado pelas trocas naturais, banais, que não há esforço. Sejam elas intencionais ou não.
Não se engane, ninguém sai ileso de ninguém, podemos até tentar fugir, ou fingir, ou levar uma vida inteira para esquecer, mas ninguém sai ileso de ninguém!

Cristina