Por Cris Magalhães
É segunda-feira, 5h30 da manhã o celular desperta. Dona Elisabeth, que passou o final de semana preparando aula, depois de uma semana cansativa em que teve inúmeros desafios no trabalho, como: separar briga, combater o racismo, conseguir a atenção dos alunos, acolher choros, ouvir famílias dizendo que o trabalho que ela solicitou aos alunos era muito difícil e tomaria tempo demais das crianças e da família, pega seus óculos no móvel ao lado da cama, faz sua oração, liga a TV, coloca no jornal para ouvir as notícias e a previsão do tempo, enquanto se arruma.
Dona Elisabeth, antes de sair de casa, lembra que tem exames para marcar, precisa aguar as plantas, pretende fazer um bolo para a filha e as netas que vão visitá-la essa noite, pensa nos ingredientes que faltam, e fala para si que quando sair do trabalho vai providenciar tudo isso. É mais um dia comum na vida de Dona Elisabeth. Ela pega seus livros, sua bolsa de tecido e vai para mais um dia tentar fazer a diferença na vida de seus alunos.
Hoje ela tem aula no 8º ano, ela sabe que é uma turma agitada, mas dona Elisabeth preparou uma aula dinâmica para seus alunos. Antes de iniciar a aula, Elisabeth começa a fazer a chamada, quando sente o primeiro golpe, e escuta gritos desesperados, e depois outros tantos golpes que impossibilitam que ela dê a aula dinâmica que preparou, marque os exames, molhe suas plantas, faça o bolo para a sua filha e suas netas.
Seus alunos logo terão outra professora de Ciências, ela será substituída, mas sua filha nunca mais terá uma mãe, suas netas nunca mais terão o colo da avó.
Imagino que Dona Elisabeth possa ter um dia pensando em ser médica obstetra, mas o fato de ter que ficar disponível a qualquer momento caso a sua paciente entrasse em trabalho de parto, a fez repensar. Talvez ela também tenha pensado em ser policial, mas analisou os riscos que a profissão impõe e decidiu repensar. Então ela decidiu pelo magistério, afinal o maior risco era ela transformar a vida das pessoas, jamais imaginou que sua vida poderia ser transformada de maneira tão brutal.
Dona Elisabeth não tinha motivos para pensar isso, mas hoje, Ana, que inicia a faculdade sonhando em ser professora, deve considerar os riscos que a profissão impõe.
Quando um professor é desrespeitado, agredido ou morto, toda a sociedade é desrespeitada, agredida ou morta.
Talvez, por sorte, você passe a vida inteira sem precisar de um advogado, mas não passará pela vida sem precisar de um professor.
Que esse luto, vire a luta de toda a sociedade por mais respeito àqueles que dedicam suas vidas à transformar a vida de outras pessoas!
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Por Cris H. Magalhães
Instagram: @crishmagalhaes
Podcaster: Papo Ins-Pirado
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