E se der medo, vai com medo mesmo!

Por Cris Magalhães

Eu morro de medo de avião, mas enfrento esse medo porque a vontade de viver o que há para além do avião é o que me move.
É fácil? Claro que não…
Racionalmente sei que o avião é considerado o meio de transporte mais seguro, que os acidentes de carro são infinitamente mais comuns e a principal causa de morte de pessoas, entre 5 a 29 anos, no mundo, mas talvez por já ter passado dos 29 é que meu cérebro parece não registrar a informação. Ou seja, o trajeto de casa até o aeroporto é mais perigoso do que o trajeto que fazemos de avião. Perfeito tudo isso na teoria, na racionalidade, mas saber não anula o sentir, pois meu corpo responde a este medo.
Logo eu que sou a verdadeira Aurora reencarnada, não consigo dormir bem antes de uma viagem de avião, rezo como nunca, evoco até meus parentes que já não estão mais por aqui para que possam interceder junto à qualquer entidade que seja protetora das aeronaves, tentando negociar minhas pisadas na bola e assinando, em meu nome, compromissos de melhoraria. Não deve ser fácil pra eles.
No avião eu fico entre a euforia da viagem e o desespero dela e eu já falei que muitas vezes quando fico nervosa, tipo quando a filha está chorando para tirar sangue, eu dou risada, imaginem no avião. Mas eu vou!
E quando atravesso esse medo e chego em terra firme, aliás para quem tem esse medo, pisar em terra firme é melhor do que qualquer outra sensação na vida, pense em absolutamente qualquer sensação de prazer: comida, sexo, grana… nada se compara a pisar em terra firme. Enfim, quando atravesso esse medo, vivencio coisas incríveis, das quais, muitas vezes, não seriam possíveis se eu deixasse o medo me paralisar.
Talvez a falsa sensação de controle que um carro dá, é o que me faz achar que o carro é mais seguro. A possibilidade de que, mesmo tendo acidente, as chances de sobrevivência são maiores do que em um acidente de avião, também me faça sentir uma falsa sensação de controle. Ou seja, o medo nada mais é do que a distorção do que é real, porque na real, não temos controle sobre nada além dos nossos pensamentos e das nossas atitudes e, muitas vezes, nem sobre isso nós temos controle.
Ter medo de perder alguém não impede que a gente perca. Ter medo de mudar uma situação na nossa vida, não faz com que a situação mude. Ter medo de encarar um problema, não faz com que ele seja solucionado. Ter medo de viver, não nos impede de morrer, pois o medo não impede a morte, somente a vida!
Sabe aquela famosa frase: se correr o bicho pega, se ficar o bicho come? Talvez esteja faltando a parte: se encarar o bicho some!
Encare seus medos, afinal coragem não é ausência do medo, e sim a capacidade de agir apesar dele. E como diria Guimarães Rosa, “o que a vida quer da gente é coragem!”.

Cristina